quinta-feira, 8 de abril de 2010

Matéria na GAZETA DO POVO – Vida e Cidadania em 15.04.2010

 

Terceira Idade

Foto: Marcos Labanca/Gazeta do Povo

Marcos Labanca/Gazeta do Povo / Hilda e Rozimbo Bianchi estão na estrada desde novembro e ainda não voltaram para o “endereço fixo” do casal, em Pato Branco Hilda e Rozimbo Bianchi estão na estrada desde novembro e ainda não voltaram para o “endereço fixo” do casal, em Pato Branco

Aventura

O melhor da vida sobre rodas

Aposentados desfrutam do merecido descanso em viagens a bordo de motor homes pelo Brasil e pelo mundo

Publicado em 08/04/2010 | Fabiula Wurmeister, da sucursal

Foz do Iguaçu - Acordar, levantar, abrir as janelas e apreciar a paisagem do quintal. Hoje um lago, amanhã um castelo, depois o horizonte repleto de cumes de montanhas. So­­zinhos ou em grupos, centenas de aposentados e de pessoas que estão prestes a se aposentar percorrem milhares de quilômetros pelas estradas brasileiras e de países vizinhos com um único objetivo: aproveitar o melhor da vida a bordo de um motor home.

Se o lugar agrada, por que não passar uma semana ou duas ali? Caso contrário, nada impede o viajante de partir a qualquer momento. Basta arrumar a casa e pegar a estrada. “Quer liberdade maior que essa?”, questiona o empresário de Pato Branco, Rozimbo Luiz Bianchi, 77 anos. Desde que saíram de casa, em novembro, ele e a esposa Hilda, 73 anos, ainda não voltaram.

Dicas

Um pouco de espírito aventureiro e investi­mento em um veículo adaptado – alugado ou próprio – são essenciais para garantir viagens inesquecíveis e tempo­radas em campings. Confira as dicas de estradeiros experientes.

Clubes

- No Paraná, são três os grupos: Terra das Águas, de Cascavel, fone (45) 3223-3700; Pé Vermelho, de Londrina, fone (43) 3259-1498  e Estradeiros, de Curitiba, (41) 2117-2300.

Locais

- Os melhores pontos de campismo no estado: litoral, Campos Gerais e praias do Lago de Itaipu.

Segurança

- Campings e balneários ainda são os lugares mais seguros e práticos para quem viaja de motor home.

Eles são estradeiros – como são chamados os adeptos do campismo em motor homes e trailers –, há 35 anos. Já perderam as contas de quantos quilômetros rodaram nesse tempo. “Isso não importa mais. Guardamos na memória e em fotos apenas os lugares, as paisagens, os bons momentos que passamos viajando a sós ou com outros amigos”, explica Bianchi. As viagens mais longas passaram dos 17 mil quilômetros. Para a Argentina, já foram mais de 30 vezes, além do Uruguai e Paraguai. Conhecem quase todos os estados brasileiros.

No cartão de visitas, com o endereço fixo – onde dificilmente são encontrados – e os telefones – “para encontrar a gente, só mesmo no celular” –, duas fotos resumem o misto de aventura e contemplação vividos a bordo dos oito motor homes adquiridos ao longo dos anos de viagens. “Em uma das passagens pelo Chile, cruzando a Cordilheira dos Andes, pegamos neve com mais de seis metros e meio de altura. Se a gente conta, ninguém acredita. Mas a foto está aí para provar.”

Privilegiado por poder ter se tornado um aventureiro 15 anos antes de se aposentar, aos 42 anos, Bianchi lembra que experimentou o gosto pelas viagens no conforto da própria casa depois de visitar um amigo em um camping em Foz do Iguaçu. “Fui visitá-lo no domingo. Na segunda-feira comprei meu primeiro trailer, por telefone, de uma loja em Curitiba. Depois, não parei mais”, conta o aposentado, ao mostrar o motor home adquirido há dois anos, equipado com o que há de melhor em conforto, tecnologia e segurança.

Durante os anos na estrada, Hilda diz ter feitos vários amigos. Alguns deles continuam fazendo companhia há mais de 20 anos, como o casal catarinense Graça e Renato Wenzel. Com outros, a conversa e as experiências são colocadas em dia nos encontros de estradeiros que ocorrem em todo o país, como o do feriado de Páscoa, que reuniu mais de 150 motor homes na praia artificial de Santa Helena, às margens do Lago de Itaipu, no Oeste do estado.

Questionados sobre o que estariam fazendo na aposentadoria, não fossem as viagens, todos são categóricos: “estaríamos no hospital”. “Somos privilegiados por termos condições de viajar com todo o conforto de uma casa, a liberdade de decidir nossos próprios destinos e o tempo que pretendemos ficar nes­­ses lugares. Mas o mais importante é fazer o que se gosta. Não im­­porta o quê. Apenas o que pode te dar alegria de viver”, ensina Graça.

Enquanto a aposentadoria não chega, o industrial Pedro Paulo Farias, 59 anos, aproveita o máximo que pode nas folgas do trabalho. Ao contrário dos vários amigos que passam em média dez dos 12 meses do ano viajando, ele reserva os finais de semana e feriados prolongados para mudar de endereço. “Nesses dias, não tem tempo ruim, não tem problema, nada que me tire esse prazer de viver entre amigos e pessoas que, justamente pela experiência, sabem o valor do respeito”, explica o viajante, adepto do motor home há dez anos.

Farias preside a Associação Estradeiros Terra das Águas, de Cascavel, no Oeste do estado, com cerca de 50 associados, a maioria aposentados. “Nos encontros, nas festas ou nas viagens que combinamos, assim meio na louca, o que se vê é o companheirismo, a alegria de conviver com as pessoas. Isso me faz sentir jovem, com a vantagem da experiência. Quando saí pela primeira vez para uma dessas viagens, conheci a liberdade.”

Por que motor home?

Conforto, economia e liberdade são as palavras chaves quando o assunto é viajar de motor home. Prática ainda pouco comum no Brasil, a falta de segurança e de infraestrutura adequada impedem que esse estilo de vida se dissemine pelo país. Para os estradeiros de primeira viagem, os mais experientes recomendam os carros menores, mais baratos, de manutenção mais simples e mais fáceis de serem dirigidos por qualquer pessoa, sempre em conformidade com a habilitação exigida para cada tipo de veículo.

O importante é ter água, gás e energia suficientes para o tempo que se deseja ficar acampado. Apesar de algumas empresas disporem de carros para aluguel, o mais comum é ser dono do próprio motor home, seja ele uma van, um micro-ônibus ou um ônibus adaptado. Os veículos custam de R$ 100 mil a R$ 600 mil, para os carros novos, equipados com cama, mesa, armários, fogão e geladeira. Os mais caros têm tevê por satélite, ar-condicionado nos cômodos, ducha e máquina de lavar roupas.

A segurança deve estar em primeiro lugar para quem pensa em pegar a estrada. Uma alternativa que também garante conforto é ter em mãos sempre um guia com os campings e balneários que ofereçam espaço e estrutura para motor homes como água potável, energia elétrica e reservatórios para o escoamento da água servida e dos dejetos do banheiro químico. Associar-se aos grupos de campistas é outra dica. No Paraná, são três: Terra das Águas, de Cascavel, Pé Vermelho, de Londrina, e Estra­deiros, de Curitiba.

Depoimento

Experiência compartilhada

Fabiula Wurmeister, jornalista

Seis anos se passaram desde que voltei de uma viagem de quase um ano por 17 países europeus, a bordo de um motor home. A ideia de viajar e divulgar os atrativos turísticos de Foz do Iguaçu rendeu a mim e a outras duas colegas jornalistas experiências inesquecíveis. Durante a expedição Eurotrip, pudemos testar na prática as informações sobre essa modalidade de camping. Isso nos ajudou a abastecer um site com dicas e orientações que auxiliaram outros aventureiros.

Na reportagem sobre a participação de aposentados no encontro de estradeiros realizado na Costa Oeste, no último fim de semana, a maior e mais gratificante surpresa foi descobrir viajantes que usaram a experiência relatada no site da Eurotrip para aventura semelhante. Os catarinenses Graça e Renato Wenzel disseram ser fãs da expedição. Graça, colaboradora da revista MotorHome, quase não acreditou que estava falando com uma das integrantes da Eurotrip. “Lendo o site de vocês tomei coragem e decidi fazer o mesmo com meu marido. Imprimi todos os diários de bordo e com ele elaboramos nosso roteiro. Muito obrigada”, agradeceu emocionada.

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