terça-feira, 14 de dezembro de 2010

SEM TEMPO PARA APRENDER

O texto abaixo está publicado no excelente site da TOCA

“Editorial do Jornal de Turismo


Sem tempo para aprender!

Futuros dirigentes do turismo brasileiro enfrentarão as tsunamis da Copa e das Olimpíadas

Por Claudio Magnavita*


A realização dos dois maiores eventos esportivos do planeta, de forma consecutiva no Brasil, colocou o país entre os maiores players do turismo mundial. A concorrência nesta faixa de mercado é acirrada e envolve uma disputa de vida e morte com destinos asiáticos, europeus, norte-americanos e até de vizinhos como o México e a Colômbia.
A troca de comando do Ministério do Turismo e da Embratur em pleno processo de execução deste jogo internacional poderá ser um dos maiores erros que o Governo Federal estará cometendo, principalmente com a instalação de uma gestão partidarizada por uma das legendas da base de sustentação, o PMDB. Perder o caráter técnico do MTur para uma gestão 100% política é grave.
As sequelas de incluir o Turismo na partilha política em uma época pré-Copa e pré-Olímpica poderão ser ainda maiores se os cargos diretivos forem preenchidos sem o critério técnico e de conhecimento do setor. Os novos dirigentes do turismo brasileiro, que serão nomeados para 2011, simplesmente não terão tempo para aprender. Será como tentar embarcar em um trem bala em velocidade máxima, usando o diário oficial como bilhete de embarque.
A contagem regressiva para a Copa começou no dia do anúncio oficial na sede da Fifa e o mesmo com as Olimpíadas na sede do COI. Já estamos atrasados e não dá para esticar a linha do tempo.
No caso do Turismo é mais grave porque estamos desperdiçando um tempo que foi gasto na correção de rotas da própria Embratur, encruada num planejamento de marketing ultrapassado e que não foi atualizado com a dinâmica dos novos cenários. Agora que isso já foi feito por especialistas, estamos quase jogando tudo na lata do lixo.
O Governo deve ficar atento com as nomeações sem critério técnico porque a vida dos novos gestores não será fácil. Será cobrado conhecimento técnico de cada um deles. A missão de todos está prevista na Lei Geral do Turismo, recém-regulamentada.
Hoje o setor produtivo do turismo é protegido, por uma estrutura legal, da ineficiência dos dirigentes. Existe, por lei, a obrigatoriedade de se obedecer ao Plano Nacional de Turismo (PNT), que define as diretrizes das ações do Ministério do Turismo e da Embratur.
O Conselho Nacional de Turismo terá pela primeira vez o seu teste de fogo. Passará a ser o palco onde todos os seus integrantes, mandatados por determinação da Lei Geral de Turismo, poderão cobrar e até mobilizar a sociedade contra possíveis ineficiências do poder executivo.
Só que estas duas ferramentas, a Lei Geral do Turismo e o Conselho, são ineficientes para esticar a linha do tempo. A proximidade dos dois grandes eventos planetários é inevitável. Se o Brasil não fizer o dever de casa, estaremos expondo as nossas mazelas ao mundo. Se a promoção do país não surfar na mídia espontânea nunca mais recuperaremos a mesma oportunidade.
A nomeação de um ministro é inteira responsabilidade do presidente da República. Só a ele cabe escolher. Porém, os papéis do Ministério do Turismo e especialmente da Embratur, são hoje muito maiores do que de um destinatário de emendas parlamentares. O papel do Turismo é o de ser o agente da consolidação da imagem internacional do Brasil em pleno alinhamento planetário que colocou a Copa e a Olimpíada na nossa rota.
Os ex-ministros Walfrido dos Mares Guia, Marta Suplicy e Luiz Barretto tiveram tempo para aprender. Aprenderam tão bem que o ministério é um case de sucesso do Governo Lula. Tempo de aprendizado que hoje é um privilégio que não será concedido ao deputado Pedro Novis e à equipe que será nomeada pelo seu partido. Se ele se cercar de neófitos, poderemos assistir a um naufrágio de dimensões olímpicas.
Um paradoxo curioso é que é do próprio PMDB a cidade sede das Olimpíadas de 2016 e uma das mais importantes sedes da Copa, o Rio. Tanto a Prefeitura e o Governo do Estado estão sob a mesma legenda. Na lista de candidatos ao Ministério do Turismo não havia um único carioca. Como capital do turismo brasileiro, o Rio é um celeiro de especialistas no setor e o PMDB Nacional não demonstrou reconhecer que a solução para formar uma equipe de especialistas passa pelos seus afiliados fluminenses.
O PMDB, para ter sucesso, terá de cercar o futuro ministro de uma equipe de técnicos e a Embratur não poderá ser politizada exatamente no momento que tem a maior responsabilidade de toda a sua história.
Claudio Magnavita é presidente do Jornal de Turismo, da Abrajet-RJ (Associação Brasileira de Jornalistas de Turismo-RJ) e membro do Conselho Nacional de Turismo.
Contribuição: Luiz Edgar Tostes – Brasília – DF”

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